Ah! ...
vontade preguiçosa
fechar os olhos e voar
soltar-me de mim mesma,
soltar-me e cair,
caindo embalada pelo ar ...
deixar-me ficar,
sem ter vontade ao menos de pensar
deixar estas palavras morrendo no ar ...
Ah! ...
Há dúvidas que pairam no ar
sem ideias, palavras, pensamentos.
olhos nos olhos, cara a cara, corpo a corpo.
há um misto de tudo
projectado pelo amor,
delírios, mistérios de prazer
há silêncio no ar
apenas sombras e palavras no papel
há espera na noite
sem limites o infinito é um recomeço
há tanto de nós
algo que nos completa
vida, sina, vento, fios e teias
murmúrios nos momentos
deliciosamente desnecessários
há dúvidas que pairam no ar
enfeitiçadas pela magia
Chegou ao apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum.
Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer.
Seria sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos.
Não podia mais voltar atrás.
Tocou a campainha e ele, ansioso do outro lado da porta,
não levou mais do que dois segundos para atender.
Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis.
Ele perguntou se ela se queria sentar, ela recusou.
Ele perguntou o que poderia fazer por ela.
A resposta: sem preliminares.
Quero que me escutes, simplesmente.
Então ela começou a despir-se como nunca havia feito antes.
Primeiro tirou a máscara
" Eu tenho feito de conta que tu não me interessas muito, mas não é verdade.
Tu és a pessoa mais especial que já conheci.
Não por seres bonito ou por pensares como eu sobre tantas coisas,
mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade.
Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto"
Estão ela desfez-se da arrogância
" Nem sei com que pernas chegaram até a tua casa, achei que não teria coragem.
Mas agora que estou aqui, preciso que tu saibas que cada música que toca
é contigo que a ouço, cada palavra que leio é contigo que a reparto,
cada deslumbramento que tenho é contigo que o sinto.
Tu estás entranhado no que sou, viras-te parte da minha história."
Era o pudor sendo desabotoado
" Eu beijo espelhos, abraço almofadas,
faço carinho em mim mesma tendo-te a ti no pensamento,
e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes,
como ler uma revista ou lavar uma meia, é na tua companhia que estou ".
Retirava o medo
" Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém
que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe,
sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei ".
Por fim a última peça caia, deixando-a nua
" Eu gostaria de viver contigo, mas não foi por isso que vim.
A intenção é unicamente deixar-te saber que és amado e deixar-te pensar a respeito,
que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil.
Se um dia eu for amada do mesmo modo por ti, avisa-me que eu volto,
e a recomeçamos de onde paramos, e, paramos aqui ".
E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.
Nem sempre o silêncio é a representação do vazio, da ausência … Por vezes o silêncio é um texto que diz muito se não for interpretado erradamente
Vivemos condicionados a pensar que as nossas vidas giram
em torno de grandes momentos.
mas, os grandes momentos, frequentemente pegam-nos desprevenidos
e ficam maravilhosamente guardados em recantos, para alguns sem encanto
e, que outros podem considerar sem importância nenhuma
podem até não se lembrar exactamente o que nós fazemos
do que dissemos, mas vão certamente lembra-se
o que os fizemos sentir...
Sem preconceito ou pudor
Faz-me falta...
Reproduzir, criar, recriar
Na ilusão de um verso
Na tonalidade dos dias
Vestir-me de todas as cores
Entregar-me a amores
Experimentar sabores
Faz-me falta...
O que adivinho secreto
Tudo o que hoje ainda não sei
Um segredinho indecente
Irresistivelmente desejado
O pensamento, a linguagem.
Sem preconceito ou pudor
Faz-me falta...
. Voltaste
. Voltar
. Hoje
. Passos
. Caminhos
. Desejo